Por Rodrigo Paiva, mestre em Engenharia Industrial, Professor FGV, Sócio da GRAF Infra Consulting
As mudanças climáticas atingem toda a sociedade e os complexos portuários também devem participar das soluções. Um dos principais caminhos, apontado pela Organização Marítima Internacional (IMO) é a transição energética e a descarbonização, usando fontes renováveis e limpas de energia.
Há muito o que pode ser feito. Os portos correspondem por mais de 80% do comércio mundial (UNCTAD, 2018). Além de ser um dos principais nós logísticos, a evolução de suas funções e a característica de ser o concentrador da cadeia de suprimentos global permite aos portos atuar como facilitador em melhorias ambientais: i) como landlords (provedores de áreas e infraestrutura básica); ii) como reguladores (definindo tarifas, padrões ambientais, ocupação territorial); iii) como operadores (equipamentos e infraestrutura); e, iv) como gerenciadores de stakeholders – da comunidade portuária (estimulando a maior colaboração entre a comunidade portuária e a cadeia logística envolvida).
Assim, os portos podem estimular movimentos que busquem a transição energética seja pela definição de padrões institucionais, pela criação de estratégias logísticas “verdes”, pelo estímulo a novas tecnologias, pelo convencimento da comunidade portuária de sua importância e seus benefícios. O caminho para a transição claramente não será fácil e linear e dependerá, sobretudo, de como as Autoridades Portuárias entenderão seu papel e se serão protagonistas na nova cena global.
Olhar para experiências internacionais, traduzi-las para a realidade brasileira, e definir um caminho próprio, talvez seja a forma mais adequada para tratar o tema no nosso país.
A Europa e seus portos nos trazem exemplos de criação de estratégias importantes no caminho da transição energética pelos portos. O Porto de Rotterdam, assim como o de Antuérpia, possuem estratégias claras e ambiciosas como seu posicionamento de hub de hidrogênio, a criação de corredores verdes e digitais e o estímulo à economia circular. As metas impostas por Rotterdam compreendem: a) Redução das emissões de CO2 em 50% (2030); b) CO2 Neutro (2050).
Observam-se também algumas iniciativas já na definição da ocupação espacial de áreas portuárias, em seus planos diretores, ao se definirem terrenos e infraestrutura básica para a implantação de projetos de energia de baixo/zero carbono, e, em alguns casos, até mesmo investimentos em projetos de energia sustentável.
O desenvolvimento de uma política de transição energética para o sistema portuário brasileiro passará pela criação de uma política governamental estruturada e pensada para o estímulo às atividades ambientalmente amigáveis, que dependem da atuação das Autoridades Portuárias, mas não somente delas.
Possibilitar e estimular que a cadeia logística de importação e exportação, desde a produção agrícola e industrial até o transporte terrestres de/para os portos a adotarem práticas sustentáveis (uso de combustíveis verdes, energia renovável), prever canais verdes com menores tarifas para cargas ligadas à essas práticas, estímulo à navegação com embarcações que utilizem energia não fóssil, benefícios àqueles terminais que implementem equipamentos eficientes híbridos e elétricos, o uso dos planos diretores como ferramenta de planejamento verde, são práticas que podem e devem ser adotadas com o objetivo de participar da nova economia global e atrair investimentos privados, que a cada dia buscam alternativas diferenciadas e inovadoras como forma de garantir retornos sustentáveis.


